ESPETÁCULO MOSTRA O STRIPTEASE COMO ARTE
Movimento tão antigo quanto marginal vira show de dança em Buenos Aires
REDAÇÃO BAZAAR 19/06/2018
Por Victor Drummond
Em “Strip + Tease = 4 desvelos”, nudez humana ganha nova roupagem através de poéticas esquetes sobre o striptease. A obra é um convite à transformação e aos desapegos humanos, em cartaz no Teatro de La Ribera, em Buenos Aires.
Bazaar conta os detalhes de cada ato do espetáculo:
Ato 1: “Ecdisis”
Com título “Ecdisis” (que no grego significa despir-se, libertar-se da vestidura), tem o performer Ulrico Eguizábal como protagonista, que também assina o poderoso figurino, todo em látex. O resultado visual dirigido por Maricel Alvarez parece um sofisticado filme de ficção científica.
Um documentário sobre o assunto é prólogo do ato. Georgia Sotherm, reconhecida stripper de Baltimore, pediu uma vez a Mencken, influente crítico cultural, que associasse o striptease ao biológico fenômeno das trocas de peles e dos exoesqueletos, conhecida como ecdisis.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
As cenas preparam o espectador para o show de organicidade, elasticidade, drama, força e imagem cênica que Ulrico traz ao palco. Seus traços e movimentos longilíneos parecem um artrópode-humano. Aos poucos, Ulrico hipnotiza a plateia com suas formas e coreografia para ir se desapropriando de tudo: pensamentos, angústias e as máscaras sociais que nos encobrem.
Interlúdios entre um ato e outro são muito bem executados ao piano por Carmen Baliero, capaz de causar um estranhamento sonoro com uso de alguns objetos transformados em instrumentos musicais, para na sequência tocar uma peça mais melódica, anunciando os atos.
Ato 2: “Impuesto Rosa”
Florencia Vecino reúne elementos da cultura pop ao dirigir o número “Impuesto Rosa”. Acompanhada de um corpo de baile cenográfico (como a escultura de Pinóquio animada eletronicamente), a cena cria um imaginário erótico entre a pureza do mundo infantil e o voyerismo por trás dos stalkers virtuais. Sua coreografia bem marcada vai aos poucos revelando seu corpo, que também funciona como um protesto contra a imposição do consumo e da beleza ao universo feminino.
Ato 3: “El Cisne Salvaje”
Carlos Fulman
Emilio Bidegain entre em cena dirigido por Pablo Rotemberg ao som de um balé. Figurino impecável (como em todos os atos e com uma clara ligação ao universo da moda), usando um efusivo blazer feito com plumas de pavão e uma calça verde metalizada. Ele vai aos poucos desconstruindo esse look quase David Bowie para dar lugar ao stripper. Muito hedonismo e poesia, como ele mesmo define: “quando tiro a roupa, não estou pensando em sua reação; estou pensando em uma pintura de Van Gogh“, citando Gypsy Rose Lee, a conhecida estrela dos espetáculos burlescos. “Não sou um exibicionista. Sou o traidor que quer trair. Porque trair é surpreender. E surpreender, excitar. E excitar é meu destino.”, conta ele.
Ato 4: “Burlesque”
Claro que num universo tão excitante e provocativo como esse, o burlesco não poderia deixar de estar representado neste ato dirigido por Carlos Trunsky e protagonizado por Fanny Bíanco e Mariela Anchipi. Um sensual jogo entre a cantora do cabaré e sua dançarina, entre o provocar e se recolher, entre o desejar e se esquivar.
“Para manter o desejo, é necessário que nunca se cumpra o todo. O striptease é a arte da demora, da postergação. O artista estabelece um jogo de ocultação e de provocação”, explica Diana Theocharidis, diretora artística do Teatro de La Ribera. E assim, a plateia sai extasiada por entrar nesse poderoso jogo de sedução e transformação.
“Strip+Tease = 4 Desvelos”. Teatro de La Ribera: Av. Don Pedro de Mendoza, 1785, Caminito, Buenos Aires. Até 08 de julho
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ATUALIZADO EM 22/06/2018