KIRSTEN MOSEL: ARTISTA PLÁSTICA “PINTA” SEM TINTAS E PINCÉIS
A alemã Kirsten Mosel cria telas através da subtração e não da adição de materiais
REDAÇÃO BAZAAR 17/05/2018
Fabio Liebl
Por Victor Drummond
Kirsten Mosel é uma surpreendente e delicada artista plástica alemã, radicada há 8 anos em Buenos Aires e que está com uma delicada mostra solo intitulada “Argentine Suite”, em Buenos Aires.
Kirsten é docente em artes visuais pela Academia de Belas Artes de Braunschweig, na Alemanha. Viveu entre o país e a Espanha, onde assinou diversas mostras e projetos. Em 2004 foi eleita como representante da Espanha na Bienal Da’Kart, em Dakar. E para quem foi curadora da exposição de pintura abstrata (aliás, ela é aficionada por este estilo) no Gabinete Literario Las Palmas, não seria surpresa se Kirsten resolvesse desafiar as ferramentas básicas das artes plásticas e criasse uma proposta de pintar sem tintas e pincéis. Ela batizou a técnica de cutout, sua marca registrada.
O resultado é orgânico, colorido e inusitado – e uma família de sete destes quadros que estão presentes na mostra.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
Com uso das lonas utilizadas pela indústria gráfica para plotagens, banners e outdoors publicitários, Kirsten entrega criações envolventes, cheias de colorido, movimento e ternura.
A obra “Ventanas” nos traz o questionamento: estou dentro ou fora da arte? Dentro ou fora de mim mesmo e desse lugar no mundo?
Uma criação chama muito atenção pelas curvas orgânicas, quase como que em movimento. Mosel explica que “tem uma forte relação com o corpo humano, com a bilateralidade” da nossa anatomia: o coração, o pulmão, os rins e o próprio corpo com lados simétricos.
Kirsten flerta com o mundo da biologia: no workshop imersivo que ela ofereceu para os convidados de imprensa, ela explica que a tela de fortes contrastes entre o vermelho e o preto são uma releitura dos cromossomos humanos antes de se multiplicarem: “eles são o princípio de tudo, da vida”, comenta ela.
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Na obra “El Libro”, a artista sobrepõe de maneira muito inteligente camadas de lona, “diagramadas” como colunas de um periódico. A intenção reside na desconstrução da verdade e da informação. Mosel diz que “há sempre uma entrelinha que não foi dita.”
Kirsten já ganhou prêmios importantes. E apesar de já ter realizado mostras na China, Espanha, Argentina, Alemanha e Estados Unidos, ainda não expôs pelo Brasil. Ela revela, porém, que já tem conversado com algumas galerias nacionais.
Tem motivos de sobra, já que na saída da galeria há seis telas menores com fotografias feitas por ela (algumas delas clicadas no Brasil) em que alguns objetos do cenário são recortados. Existe ali uma sensação de tempo e de espaço que se deslocam nesse “vazio”. É como se o espectador estivesse em determinado lugar, mas pudesse se projetar em outra dimensão.
Nessa paixão e observação pela biologia, pela botânica, pelas formas, pela arte abstrata e pelo espaço que ora nos pertence, ora passa a não existir, que Kirsten vai pintando o mundo com sua imaginação e bom gosto que flertam com o pop e com novas ferramentas. Para ela, tintas não precisam de pincéis. E o fluxo da vida é a sua própria tela.
Kirsten Mosel: “Argentine Suits”
Galeria Gachi Prieto: Calle Uriarte, 1373, Palermo Soho, Buenos Aires
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ATUALIZADO EM 19/05/2018